Quero roubar uma amizade

É meio engraçado falar sobre o tema, principalmente porque ele é especialmente resumido de maneira completa em seu título, mas ainda assim não deixa de ser interessante, ou pelo menos bizarro, embora não seja de maneira nenhuma irracional, pois por vezes esta é a aparência, justificada pelas referências controvertidas e até mesmo antagônicas que trago.

Sabe aquela pessoa que você sempre sonhou em conhecer melhor e nunca teve nenhuma oportunidade? Pois é! Mas aqui ainda não me refiro ao roubo da amizade, e sim de outrem, com quem rola algo mais, como eu poderia dizer... Algo mais.... Intenso. É! Acho que você conseguiu entender o que quero dizer, se não conseguiu, tudo bem, te falo com todas as palavras: interesse que passa de mera aproximação, onde resultaria em boa conversa e divertimento, me refiro especificamente a um possível envolvimento carnal.

Engraçado falar deste assunto com essas palavras, soa tão sórdido, ou tão promíscuo. O que quero dizer é algo simples, sem adição de transas ou afins, e sim do básico que sabemos: ver uma pessoa, achá-la interessante, conhecê-la melhor e por fim descobrir o que pode rolar entre vocês, desde beijinhos até um relacionamento mais sério.

Você está lá, conseguiu aquele encontro pelo qual vinha sonhando há meses, e às vezes até mesmo anos. O começo é legal, surgem elogios das duas partes e você tem certeza que está dando tudo certo. O problema é, não estamos a sós, ela trouxe consigo duas amigas e bom... Ou você saia com elas junto de quem você queria, ou não sairia com ninguém.

Então, por avaliar a situação e saber que era sua única chance, sua única alternativa, você estava lá. Meio sem graça, claro, mas totalmente esperançoso e até mesmo um pouco radiante para olhos normais.

Pena que da metade para o final daquele encontro, se é que pode ser assim chamado pela presença de tantas pessoas que não deveriam estar lá, parece que o interesse dela diminuiu, ela não te dirige mais a palavra, prefere ficar falando com as amigas.

Terrível fica o seu sentimento de incapacidade, e seus pensamentos convergem para tentar descobrir o que você teria feito para afastar a atenção de quem você tanto queria. O querer, não de maneira sincera e cego, mas sim um querer por dúvidas, por ter despertado em sua mente a possibilidade de ser vítima de um tamanho achado que só o tempo seria capaz de esclarecer.

De toda sorte, você acaba sendo compelido a pelo menos se entrosar mais com as amigas dela. Uma delas, bom, você sabe que nunca terá acesso caso esta ocasião reste frustrada. Entenda este acesso como amizade. É que se trata da melhor amiga dela, de muito tempo atrás. Sempre, sempre você quis conhecer melhor esta outra garota, pois ela se mostrou ser muito diferente das outras após algumas de suas investigações. Ela poderia ser vítima do seu motivado ato furtivo, sem você nem precisar pestanejar ou pensar muito. No entanto, já era sabido por você que uma amizade dessas era quase impossível, pois esta garota se portava como um pulmão daquela por quem você está interessado. Assim, ainda que até mesmo ela tenha interesse em se aproximar de você, ela não o fará.

Esta regra faz parte do Código das Amizades, pois você poderá ver uma amiga deixar de ser amiga de sua melhor amiga para ficar com você. Mas você nunca vai ver uma amiga deixar de ser amiga de sua melhor amiga para tornar-se boa amiga ou até mesmo melhor amiga de uma pessoa que sua melhor amiga não quer ver para não gerar constrangimentos. Ficou meio ambíguo os pronomes “sua” deste parágrafo, mas leia-os como referentes a amiga e não a você.

Claro que é necessário levar em conta para análise desta regra que a amizade preexistente já passou por muitas situações de provas e por isso tornou-se praticamente inabalável.

Bom, então com essa amiga dela você especificamente não tem chance de aproximação. A barreira entre vocês é intransponível, baseada no metal forjado em ninguém menos do que a Amizade em pessoa. Entretanto, você pelo menos aproveita a oportunidade para saber um pouco sobre ela, seus gostos, objetivos e estado emocional.

Mas, já a segunda amiga dela, você sabe que embora seja muito amiga, não chega perto de ser como a anterior descrita. E é especialmente para ela que sua atenção é direcionada, pois a seus olhos ela parece ser a pessoa errada, no lugar errado, fazendo coisas erradas.

Um comentário que ela fez no carro, durante o percurso de um lugar a outro, já lhe demonstrou o quanto ela poderia se tornar sua amiga, muito próxima por sinal, e só não melhor amiga porque este cargo já estava muito bem preenchido.

Uma vez visto que não iria rolar nada entre você e a dita cuja, você pensa que pelo menos poderia roubar-lhe aquela amizade. Porque ela era tão visivelmente valiosa, ela era tão especial. Por que você não tinha conhecido-a antes? Antes de ela ter de passar por tudo aquilo que você um dia rejeitou e repudiou?

A sorte é assim, ela acaba vindo para todas as pessoas. Acontece que para umas vem mais cedo e, por conseguinte, para outras mais tarde. As vezes, tão tarde, que a espera resultou em uma cegueira permanente, fazendo com que surja uma incapacidade de identificar a dádiva retardatária.

E foi assim como achei que ela estava, cega. Diante de seus olhos estava você, uma mão estendida para fazê-la entender que ela deveria estar em outro lugar, respirando ares que valessem a pena. O pior de tudo é que por mais que tenha tentado mudar a realidade desta menina, seus esforços restaram frustrados, pois já era sabido por você que era impossível estender a mão até onde ela estava, seu braço não era tão comprido.

Ainda assim sua expectativa de roubo não foi totalmente abalada, pois quem sabe você poderia dar uma de super-herói e fazer seu braço esticar até pegá-la firme pelo punho.

Você deveria se sentir mal por querer ser tão amigo, tão íntimo dela se você já tinha melhor amiga? Falando assim até parece que sua melhor amiga, afinal, não era o suficiente, mas esta opinião se mostra errada em todos os pontos. O fato de você querer muito ser amigo daquela menina, não quer dizer que sua melhor amiga não mais lhe bastasse, pois eram relações que pelo sentir, você sabia que eram distintas.

Seria esse um fenômeno espiritual? Parece aquelas histórias onde duas pessoas que nunca antes haviam se visto, mas de repente, ao se encontrarem, se entenderam tão bem que poderia se afirmar que era um reencontro de vidas passadas.

Mas ela estava vendada, e ela não me reconheceu. Mesmo depois de tanto tempo sem nos vermos. No final das contas, eu nem fiquei tão triste porque não consegui êxito com aquela do começo, aquela que tanto esperei; fiquei triste porque não consegui ajudar quem eu tanto queria, quem tanto valia para mim.

Como pode isso acontecer? Eu me perguntei o tempo todo por um período se no final das contas ela iria me perdoar, porque eu não a resgatei, quando talvez pudesse. No entanto, também me veio à mente que ela poderia nunca antes da morte me descobrir, como eu a descobri.

E eu vi em torno dela correntes que eu não seria capaz de quebrar em tão pouco tempo. Se eu pudesse, teria me estendido, e eu tentei. Porque eu sabia que minha aproximação daquele metal traria o fenômeno da oxidação. Entretanto, não me foi permitido ficar próximo dela, porque aquela por quem eu me interessei não permitiu.

E é por isso que eu lamento, e sempre vou lamentar. Porque ela era tão leal, tão sincera, tão inocente, mas se encontrava desnorteada diante de mim e embora tenha tentado, não consegui dar-lhe um rumo.

Como eu queria ter roubado aquela amizade, por um tempo inclusive apenas para mim. E é por isso que, se em algum outro dia eu tiver a oportunidade de fazê-la livre, eu não hesitarei.

6 comentários:

Unknown 13 de abril de 2010 às 20:43  

"É...Frostwing xD!Só vc mesmo..fazer eu ler ele 2vezes..esse texto com linguagem tipo..josé de alencar...bem detalhada xD...
Neh uai! rá!
Hey...ficou muito bem feito!vc já tm alma de escritor viu! ficou tipo assim!MUITO FODA!

KiN4_ 14 de abril de 2010 às 19:24  

Grande texto!! Desabafo com gotas de ódio.
Parabéns pela didática Ygo, você vai longe cara.

Ficou show! Uma linguagem penetrante nos olhos de quem lê, adjetivada para a captura dos sentimentos. Não sou muito deste ramo, mas que o texto, particularmente, ficou muito bom, isso ninguém pode negar.
Abraço Ygo ;]

GEASCE/ SIMPÓSIO 15 de abril de 2010 às 16:16  

Parabéns pelo texto!! muito bonito ;D
faz a gente pensar um pouco mais nas nossas escolhas de amizades...

Unknown 16 de abril de 2010 às 19:15  

Ficou legal Ygo, misturou bem, um tem tao cotidiano com palavras nao tao cotidianas, mas ficou bem legal sim, texto nao acessivel a todos, mas quem entende deve ter achava bom, como eu achei. flw man

Unknown 17 de abril de 2010 às 14:34  

Mto bom, Ygo... otimo texto, deixa a gente fixado até o fim.

Márcio Benício 18 de abril de 2010 às 16:48  

Acho que uma vez eu tentei "roubar uma amizade", ou melhor, "dar um rumo" aquela amizade aparentemente tão fácil de ser roubada (tava ali,bem facinho, pra quem quisesse. Tentei, sabe... Não com muito esforço, mas tentei. Hoje, falando um pouco envegonhado, eu acho que eu tava era querendo salvar aquela alma tão perdida, tão desnortada... Evergonhado porque desconfio que só queria salvá-la para aumetar as pedras do meu galardão. Sei lá.

Ah, o texto é ótimo.

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Eu disse QUASE.

A minha memória não é das melhores, sabe? E, francamente, não acho que ela seja capaz de armazenar tantas informações. É por esta razão que preciso arquivar tudo o que imagino, ou pelo menos tento.