Queria que ele fosse quem eu espero para mim

Sou complexa, isto é fato. Não me culpo, porém. É que as vezes me dá vontade de fazer especificamente algo, e depois a vontade passa. Não significa que sou instável, pois pelo contrário, sou calma até demais. Gostaria de extravasar de vez em quando.


Tudo começou há alguns anos atrás. Quer dizer, se é que posso chamar de um começo. Estava no meu terceiro ano e o vestibular era tão decisivo para mim. Praticamente não tinha tempo para mais nada a não ser estudar. Foi nesse período que me dei ao luxo de gostar de um garoto da minha sala por três semanas. E é com ele que estou agora, seja loucura ou não.


Nos tempos do colégio, há mais ou menos três anos, ele de alguma forma chamou minha atenção. O típico não estudioso que tira notas boas (embora não excelentes) e que conhece todo mundo. É claro que a maioria das meninas da turma estavam dispostas a namorá-lo se ele assim quisesse. Não que ele fosse um modelo, mas era bonito, elegante e bastante simpático.


Lembro-me de quando ouvi seu nome pela primeira vez: Fernando. É que minhas colegas estavam comentando dele. Já tinha o visto antes, claro, mas depois que descobri como ele se chamava foi engraçado o modo pelo qual ele ficou mais perto de mim, pelo menos na minha cabeça. Não que ele me dirigisse a palavra, entretanto, observar as coisas que ele fazia me tornava de alguma forma mais íntima.


É, eu realmente fiquei interessada nele naquele tempo e é muito engraçado lembrar das coisas que cheguei a pensar de nós dois. Talvez minha paixonite tivesse durado apenas uma semana caso ele não se aproximasse de mim. Na época foi embaraçoso, fiquei em dúvida se a aproximação era para ele ter mais um contato em sua lista de colegas ou se ele também havia ficado interessado em mim.


O fato é que durante essas três semanas ele se dirigia a mim como a qualquer outra menina da sala. As vezes eu até percebia um olhar diferente, embora misterioso. Não me convenci. Não aceitei a idéia colocada na minha cabeça por ninguém mais do que eu, que, de alguma forma, Fernando pudesse estar gostando de mim. Foi neste momento que decidi erradicá-lo do meu coração. Confesso que meu sentimento por ele demorou bem mais do que três semanas para acabar, mas meu cômputo de três semanas foi assim empregado por ter sido este o tempo em que eu realmente queria que rolasse algo.


Acho que fiz o que pude. Eu dei oportunidades para ele ser mais audacioso. E não fiz a linha “agora não tem mais chance” porque na verdade nunca achei que ele estivesse a fim. O vestibular, de qualquer forma, ocupou bem minha cabeça no restante do ano, de forma que depois de um tempo, quando eu o olhava, via apenas um garoto da turma. Ele nunca deixou de me cumprimentar, nem de perguntar como iam meus estudos, mas bom, ele fazia isso com todos da sala.


Ocorre que há uns dez dias nós nos vimos no shopping. Ele veio até mim, me abraçou (bem apertado por sinal) e para minha admiração ficou muito excitado de me reencontrar. Não vou mentir que gostei muito de vê-lo ali. Ele estava tão bonito e continuava com aquele charme que lhe era peculiar. Para ele visivelmente o tempo havia passado mais devagar do que para mim.


Por eu já estar atrasada para o filme que ia assistir, não pudemos conversar. Ainda assim ele pediu o número do meu celular e prometeu ligar para marcarmos algo e colocar o papo em dia. De alguma forma nasceu em mim uma expectativa estranha, que tentei descartar de imediato.


E não é que ele realmente ligou! É, fiquei bastante empolgada, pronto, falei. Ele queria sair apenas comigo. Desta idéia não gostei. Quero dizer, fazia muito tempo que a gente não conversava, e na realidade nunca tivemos muito papo. Além do que, não queria que ele pensasse que eu era fácil demais, pois tenho impressão que já deixei demonstrar antes uma queda por ele.


Eu não aceitei de plano o convite. Disse que sairia a noite com duas amigas e que ele poderia vir com a gente. Ele não gostou muito da idéia, mas eu deixei claro para ele que não iria sair exclusivamente com ele. Dentro de mim, no entanto, brotou uma vontade de sair apenas com ele, e se ele tivesse insistido em sair outro dia comigo, sem mais ninguém, eu provavelmente teria cedido. Devo ter sido bem convincente já que depois de um tempo ele topou sem reclamar.


Neste momento estamos sentados à mesa de um bar. Nós quatro. O Fernando chegou atrasado, por sinal, e estava mais bonito do que o normal. Cumprimentou minhas amigas brevemente de forma afável e depois dirigiu sua atenção a mim.


Fiquei impressionada com o modo de como ele me olhava. Era um olhar de admiração e ingenuidade que eu ainda não sabia que ele era capaz de expressar, e que jamais vi igual novamente. Se eu não o conhecesse bem, poderia afirmar que ele um dia gostou de mim e que não me esqueceu por todo esse tempo que passamos sem se ver.


Quando começamos a conversar eu senti que realmente estava interessada nele. Ele possuía tantos sonhos, certamente tinha um futuro bastante promissor e não tenho dúvida de que, quem quer que fosse a escolhida por ele, seria muito feliz. Esta forma de analisar os fatos é estranha, não? Quer dizer, eu não me personifiquei na “garota felizarda”. Ela era apenas outra, e não eu.


Mesmo sem entender, conforme o papo foi desenrolando, fui me cansando e de repente percebi que não estava mais me importando com o assunto. Enquanto ele falava eu surpreendi a mim mesma, por me ver pensando em qual motivo aquele garoto havia me despertado atração. Não, agora ele não parecia mais ser alguém com quem eu namoraria. E eu sei exatamente o motivo: jovem demais.


Quero dizer, ele tem uma conversa até legal, parecida com a minha. Mas sua aparência jovial, seu sorriso... Meu perfil é de homens mais velhos, sérios. Como pude não perceber antes que ele não serviria para mim? Eu estava sendo cruel? Meu pensamento seguinte foi de que o mundo dá voltas... Ele estava visivelmente me dando mole, muito mole. Senti-me má.


Pelo menos sábia foi minha proposta de sair acompanhada da minha melhor amiga, Mirela, que conheço desde a época do colégio. E também com Renata, uma garota que entrou em nosso grupo, ela é de Curitiba e havia chegado à minha cidade fazia pouco tempo.


Mirela não estava passando uma fase boa da vida, e é por esta razão que para todos os lugares que eu ia, arrastava-a, ainda que contra sua vontade. Tenho medo de ela entrar em depressão novamente. Da última vez a barra foi realmente pesada, embora não tenha durado muito. Ao não dar mais tanta atenção ao Fernando, meu pensamento e minha face se voltaram para ela. Eu sei que deveria (e estava tentando com todas as forças) ajudá-la. Na verdade, eu não gostaria de ter marcado esse encontro na presença dela, no entanto, como ela conhecia um pouco o Fernando, ficou de certa forma empolgada para ver tudo acontecendo.


Eu peguei em sua mão e percebi claramente que estava tremendo um pouco. Perguntei como ela estava: "muito bem", respondeu, com um sorriso fraco. Era óbvio que estava mentindo. O cigarro, que estava suspenso em sua outra mão, foi longamente tragado. O encontro para mim, já frustrado, não estava sequer em segundo plano agora. Eu não me sentia mal por isso. Sou insensível? Eu me acho tão sensível. Muitas vezes me sinto um enigma para mim mesma.


Após algum tempo de silêncio entre o Fernando e eu, percebi que ele começou a conversar freneticamente com a Renata. Não demorou muito e eles estavam rindo juntos. Mas não passou pela minha cabeça que ele estivesse atirando para todos os lados. Quer dizer, será? Não gostei para falar a verdade, soou falso. Poderia ele estar tentando fazer ciúmes em mim? Preferi acreditar que ele buscou uma forma de não ficar tão deslocado no meio de nós três, afinal, ali era o único não amigo de ninguém. Eu pedi para Renata, no momento em que fomos juntas ao banheiro, para ela não dar tanta bola para ele. Gostei porque ela entendeu a situação e agiu conforme minha súplica.


Ao final, minha consciência estava tranqüila. Tentei, disso não posso reclamar (nem receber reclamação). Cheguei a pensar que ele fosse aquele que eu tanto espero. Mas não, ele não é. Eu gostaria tanto que fosse. Seria tão mais fácil. Eu deveria saber que minha história de amor não iria se desenrolar tão facilmente assim. Eu sofrerei por mais tempo, por muito mais tempo na verdade. Só espero que esse tempo seja viável para mim, que não se torne um dia que nunca chegará. Não agüentaria viver por todo o meu sempre sem a presença de quem eu quero.

3 comentários:

Unknown 15 de abril de 2010 às 18:19  

Muito legal, sua sensibilidade fenomenal, e os momentos de surpresa entre cada momento,e, realmente "não aguentaria viver por todo o meu sempre sem a prsença de quem eu quero" adorei

Unknown 15 de abril de 2010 às 19:15  

"....´É..¨"
...Nossa...sou tua fã viu! não me admiro da tal maneira q vc escreva... pq ja ouvi suas histórias... e todas elas eu admiro bastante!
ainda vou cobrar aquele livro q vc disse q ia escrever lembra? auhsduiahuiadh
(L)333

Unknown 15 de abril de 2010 às 19:21  

uipi ^^!

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Eu disse QUASE.

A minha memória não é das melhores, sabe? E, francamente, não acho que ela seja capaz de armazenar tantas informações. É por esta razão que preciso arquivar tudo o que imagino, ou pelo menos tento.